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Chegamos na Europa bem no meio do verão, quando a grande maioria da população europeia está de férias curtindo o calor com a sua família. Nos meses de julho e agosto, todos os campings em que ficamos estavam lotados e para muitos deles, inclusive, era necessário fazer reserva com antecedência. Percebemos que o europeu viaja muito com motor home e chegamos à conclusão de que isso se deve principalmente a alguns fatores:

1) Baixo valor que se paga por um motor home na Europa (algo em torno de R$ 20.000 reais. Inacreditável, né?); 2) Custo alto para se hospedar em hotéis e pousadas quando comparado com o preço de um camping; 3) Alta qualidade das instalações dos campings europeus e padrões razoáveis de higiene; 4) Existência de um camping em praticamente toda cidade; e 5) Possibilidade de levar o cachorro para viajar junto.

Depois que chegamos na Europa foi necessário mudar um pouco o nosso jeito de visitar os lugares. Na América do Sul nós íamos até o lugar que queríamos visitar, deixávamos o carro muitas vezes na rua ou em estacionamentos baratos e íamos passear. Como o carro ficava perto de onde estávamos, era fácil voltar para fazer um lanche durante o dia, sem a necessidade de ter que comer na rua e gastar muito mais.

Na Europa, já na primeira semana percebemos que visitar as cidades com o carro seria uma grande fria, pois o preço do estacionamento é muito caro, algo em torno de 2 a 3 euros por hora (de 7 a 12 reais). E não falo de estacionamento fechado, não. Desses nós vimos poucos por aqui. Esse preço é para estacionar na rua mesmo. E não tem como fugir, até as ruas mais distantes também cobram. Muito dificilmente encontraremos alguma opção de estacionamento dentro da cidade que seja de graça. Imagina cada vez que fôssemos para a cidade e ficássemos umas 4 horas teríamos que pagar 60 reais de estacionamento. Impraticável, a menos que fosse a única solução.

Desde que eu casei, eu só fui engordando, engordando, engordando. E o Cris também. Ao longo desses anos tentei várias dietas e por vezes até conseguia emagrecer, mas acabava engordando tudo de novo depois de um tempo. Nossos programas em família sempre envolviam comida, nossos programas com os amigos também. Aí ficava muito difícil resistir à tentação. E eu amo comer doce, chego até a sonhar com chocolate se fico alguns dias sem comer. Ô vida dura!

Mas, enquanto os dois estavam porpetinhas, não tinha crise. O Cris nunca conseguia manter uma dieta por mais de uma semana, então eu estava tranquila rsrs. Só que tudo mudou durante a viagem.

Saímos de casa com uma caixa d'água instalada no teto do nosso carro, com capacidade para 250 litros, e que utilizamos muito para beber (depois de filtrada), cozinhar e lavar louça, e às vezes até tomar banho. Sempre que temos oportunidade em campings aproveitamos para enchê-la, e assim ficamos tranquilos por muitos dias.

Já estamos na estrada por 2 meses e nunca chegamos a ficar totalmente sem água, pois sempre estamos verificando o nível de água da caixa. Mas, como tudo na vida tem sua primeira vez, um belo dia quando fomos usar a água da caixa para lavar uma fruta descobrimos que estávamos zerados. Olhamos pelas aberturas da caixa d'água e não acreditamos, realmente estava vazia.

Muitos costumam dizer que quando não planejamos é que acontecem as melhores experiências e para mim existe uma certa dose de verdade nessa afirmação. Já aconteceu diversas vezes de estarmos apenas de passagem por uma cidade, entrarmos só para dar uma olhadinha ou para almoçar e nos encantarmos pelo lugar e acabarmos ficando mais dias.

Bem no começo da viagem conhecemos um casal já de idade que estava viajando pelo mundo a algum tempo. A senhora me disse que nunca pesquisava na internet sobre os lugares para onde estava indo, ela simplesmente ia e descobria o que fazer no lugar. Dessa forma, não perdia a magia e surpresa que a aguardava em cada cidade.

Nem sempre é possível lavar a roupa em uma lavanderia. Dependendo da cidade e da quantidade de roupas, o preço pode ser proibitivo. Nesse caso, nós temos que dar um jeito de lavar por conta própria. Já lavamos no rio algumas vezes, a mão em campings, em hospedagens de airbnb e até mesmo numa banheira de um hotel.

Lavar na maioria das vezes não é o problema. Até com a água da nossa caixa podemos fazer isso. Compramos um engradado parecido com o de bebidas, só que fechado, e o usamos para guardar a roupa suja e também como balde para lavá-las.

Quando você vive a maior parte da sua vida numa cidade grande e perigosa como São Paulo, sua tendência é ser mais desconfiada que o normal. E quando se tem uma mãe que fica assistindo esses programas sensacionalistas e te contando, então, até sua sombra é culpada de alguma coisa sem nem mesmo saber rs.

Sou realmente desconfiada, mas tento controlar essa tendência exercitando um pouquinho de bom senso (às vezes rs). São tantas histórias ruins que ouvimos por aí, que não custa tomar alguns cuidados para minimizar riscos.

Estamos viajando a mais de 6 meses e já no segundo mês o Cris cismou que queria uma vara de pescar. Lembro na ocasião que achei o investimento bem caro, mas pensei na quantidade de peixes que iríamos comer pelo caminho e acabei concordando.

Pescar sempre me pareceu algo relativamente fácil, era só colocar uma comidinha na ponta da vara e ter paciência de esperar um peixe morder a isca. Já na hora da compra da vara descobri que não é bem assim e, inclusive, nem se pesca mais com a minhoca, mas uma falsa isca que fica girando e dá a falsa impressão para o peixe de que é um inseto se movendo.

Nunca tinha me imaginado nadando com lobos marinhos. São animais muito grandes e que não me passam muita segurança. Sempre preferi admirá-los em terra, onde eu sou mais rápida que eles para correr rsrs.

No entanto, quando fomos para Galápagos, essa ideia pareceu tão natural. Afinal eles estão em toda parte, especialmente na ilha de San Cristobal, que é quase impossível você estar dentro do mar e não ver um nadando por perto.

Quando estamos fora de casa não dá para ser tão exigente com a qualidade da comida ou com alguns critérios de higiene, principalmente quando se está passando por lugares muito pobres e com pouco infraestrutura, como muitas cidades do Peru. É entregar nas mãos de Deus, procurar escolher a opção menos pior e torcer para não ter uma infecção intestinal.

Nos dias que estamos viajando de uma cidade para outra, muitas vezes é difícil encontrar algum lugar adequado para parar na estrada e preparar nossa própria comida. Em muitos casos, optamos por fazer um lanche simples e comer melhor a noite quando chegamos ao nosso destino.

Quem nunca teve um episódio na vida que se sentiu meio (ou totalmente) farofeiro que atire a primeira pedra (atira não, por favor hehehe).

Lembro de quando eu era criança que em algumas férias íamos visitar nossa família que mora no Maranhão. Nessa época não se viajava de avião, não. Era de ônibus mesmo, 3 dias inteiros sacolejando dentro de um ônibus lotado. Minha avó preparava uma farofa com coxas de frango para irmos comendo no caminho. E era tradição, todas as vezes que íamos para o Maranhão era sempre a mesma farofa, que abríamos na frente de qualquer um sem o menor pudor e comíamos. Ahhh que saudade da minha vozinha!

Gostamos muito da nossa barraca e do conforto que ela nos trás, principalmente pelo fato de estar no alto. Não precisamos nos preocupar muito com umidade, com insetos e animais mexendo na barraca, e a montagem e desmontagem é infinitamente mais fácil e rápida do que a de uma barraca de chão.

Hoje, depois de 4 meses de estrada, preferimos passar a noite na nossa barraca do que em qualquer hostel ou hotel mais simples. Nela dormimos com nossos cobertores e travesseiros, sabemos que está limpo e mais ninguém dormiu por lá e é escurinho do jeito que gostamos. É o nosso espaço, o nosso pedacinho de casa.

Eu e o Dani gostamos muito de animais, de todos eles. Quer tornar um passeio mais legal para nós? É só dizer que vamos encontrar com algum animal pelo caminho. Já nos animamos e a experiência com certeza será o nosso ponto alto do dia.

Como gostamos muito, a tentação de tentar passar a mão é muito grande e a frustração quando não passamos, maior ainda. No geral nos aproximamos bem devagarzinho e avaliamos a receptividade do bichinho. Se ele não está afim de contato, respeitamos e nos afastamos, mas quando ele não mostra resistência, ahhhh aproveitamos para enche-lo de carinho e afagos rs.

Até chegarmos na Europa não tínhamos tido nenhuma ocorrência policial mais séria. Apenas uma vez o Cris passou por cima de uns cones numa barreira policial na estrada, mas conseguimos sair ilesos fazendo cara de bobos e com uma boa bronca do guarda rs.

Em cada país que visitamos tomamos todo cuidado para não desrespeitar as leis. Sempre pesquisamos na internet antes de visitar algum lugar novo, só para garantir que estaremos em conformidade com as regras. Não tem coisa mais chata do que você estar passeando feliz e contente e ser chamado atenção por algo que nem sabia, ou então levar uma multa e ver o seu orçamento de alguns dias ir por água abaixo por uma besteira.

Chegamos em Cartagena decididos a enviar o nosso carro para o Panamá e seguir com o roteiro como planejado, viajando até alcançar o Alasca, o ponto mais extremo da América.

Mas, depois de alguns dias em Cartagena sofrendo com o calor absurdo e com a umidade, pensamos que era isso que estava a nos esperar pelos próximos meses na América Central e que lidar com esse calor todo poderia nos custar muito mais, financeiramente. Isso porque, o calor é tão intenso e suamos tanto, que podemos cair na tentação de ir parar num hotel só para poder aproveitar do ar condicionado rs. Pode parecer até exagero, mas não é, não, eu dou minha palavra rsrsrs.

Quando visitamos Santiago pela primeira vez aproveitamos para conhecer uma região chamada Cajon del Maipo, que fica a uma hora de distância de Santiago. É um lugar muito bonito, mas que não conseguimos explorar como queríamos da primeira vez, pois tínhamos poucos dias na cidade. Dessa vez resolvemos voltar com mais calma e conhecer os lugares que ficaram faltando.

Chegamos em Cajon del Maipo já quase escurecendo e como era baixa temporada todos os campings onde parávamos não estavam funcionando, até que enfim achamos um que estava aberto, mas que o banho era com água gelada. Naquele escuro já não dava mais para procurar outro e ficamos ali mesmo. Tínhamos tomado banho de manhã antes de sair do camping anterior, só para garantir, então fomos dormir sem banho mesmo.

Não é incomum estarmos dirigindo por minutos em silêncio (já que o Dani não fica muito tempo sem falar rs) quando alguém, geralmente o Cris, rompe esse silêncio para dizer que está com vontade de comer alguma coisa. Claro que essa coisa geralmente só tem no Brasil ou, se tem em outros lugares, nunca é por onde estamos passando.

Eu sempre digo que o Cris é o homem das vontades. Mesmo coisas que quase nunca falávamos ou comíamos em casa, como por exemplo coxinha, ele já sentiu vontade de comer na viagem. Segundo ele, toda semana ele comia pelo menos uma coxinha no serviço. Olha aí os segredos que descobrimos depois de 11 anos de casados rs!

Se engana quem pensa que a vida de quem viaja é só alegria e curtição 100% do tempo. Tem dias que bate um cansaço, um desânimo e uma vontade de simplesmente não fazer nada, de não ir a lugar nenhum, igualzinho ao que sentíamos quando estávamos em casa.

Depois de 4 meses na estrada, pude perceber que independentemente do estilo de vida escolhido, sempre teremos momentos bons e ruins, alegres e tristes, de diversão e de obrigação, porque assim é a vida.

Eu e o Dani gostamos muito de cachorros, e sentimos muita saudade da nossa, a Mila. Por isso, sempre que estamos em algum lugar que tenha cachorro, nos certificamos de que ele seja manso e já nos aproximamos para brincar. Muitos cachorros, no entanto, retribuem com sua lealdade eterna, e não saem mais de perto da gente, onde quer que a gente vá.

Isso acontece muito em campings. Fazemos um carinho, dividimos nossa comida e pronto, o cachorro fica com a gente até a hora em que vamos embora. Muitas vezes eles até acompanham o carro correndo ao lado por algum tempo, até que desistem e voltam para casa.  É de partir o nosso coração, em especial o do Dani.

Depois que resolvemos todos os trâmites de envio do nosso carro para a Europa, tínhamos que decidir onde passaríamos o mês em que o Chulé estaria viajando de navio.

Minha vontade era aproveitar esse período e conhecer lugares que não iremos de carro, como a África do Sul, mas o preço da passagem aérea estava proibitivo. Depois de pesquisar mais alguns destinos que nos interessava, chegamos à conclusão de que nossa busca teria que se pautar pelo preço, pois os lugares que queríamos estavam muito fora do nosso budget. E assim acabamos parando em Toronto, no Canadá.

Esse é um assunto que não nos preocupa muito quando viajamos pelo Brasil e nós nunca pensamos muito a respeito até que fazermos nossa primeira viagem para lugares mais altos. Na ocasião viajamos para o Atacama e para a Bolivia, e chegamos a dormir a 4.300 metros de altitude. Foi uma noite horrível, dá a sensação de que está faltando o ar, e de fato está. Achei até que o Cris ia morrer esse dia, nunca tinha ouvido ele roncar daquele jeito rs.

Fora a falta de ar e cansaço extremo, a altitude também nos traz outros desconfortos como dor de cabeça, ânsias e vômitos e, para alguns, até diarréia. Li na internet o relato de uma menina que dizia que ela tinha sido afetada pela altitude tendo piriri, mas como a comida em alguns lugares do Peru é meio suspeita no quesito higiene, tive minhas dúvidas se foi a altitude que causou o piriri ou algo ruim que ela comeu rs.

Quando eu era criança, tinha muita alergia a picada de pernilongo. Uma simples picadinha virava um caroço enorme e vermelho. Quando levava mais picadas, então, elas se uniam em um grande inchaço, dava febre e muitas vezes era necessário entrar com medicamento para conter o efeito alérgico.

Com os anos fui melhorando e hoje já não sofro mais desse problema, mas continuo tensa quando vejo um pernilongo por perto. Acho que a minha mãe, sem querer, deve ter incutido esse pânico em mim pela sua preocupação em me proteger dos pernilongos (como eu faço com o Dani em outros assuntos rs).

Antes de começar a viagem, imaginávamos que receberíamos vários convites para ficar na casa de pessoas ao longo do caminho, principalmente pessoas da nossa igreja ou conhecidos que estão vivendo agora em outras partes do mundo.

Sempre nos consideramos boas visitas, que não gostam de dar trabalho ou abusar da hospitalidade alheia, e não seria diferente na estrada. Com certeza não iríamos abusar do nosso anfitrião e ficar um mês em sua casa rsrsrs. Mesmo assim, em cinco meses de viagem nenhum convite surgiu.