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Se engana quem pensa que a vida de quem viaja é só alegria e curtição 100% do tempo. Tem dias que bate um cansaço, um desânimo e uma vontade de simplesmente não fazer nada, de não ir a lugar nenhum, igualzinho ao que sentíamos quando estávamos em casa.

Depois de 4 meses na estrada, pude perceber que independentemente do estilo de vida escolhido, sempre teremos momentos bons e ruins, alegres e tristes, de diversão e de obrigação, porque assim é a vida.

Antes de começar a viagem, eu pensava que todos os dias seriam espetaculares, já que cada dia estaríamos em um lugar diferente, vivendo novas experiências, conhecendo novos costumes, culturas e pessoas. Mas nem sempre é assim. Tudo no fim depende do seu estado de espírito. As paisagens são lindas, mas começam a ficar muito parecidas com o tempo, e para que apenas a paisagem te empolgue é necessário que seja algo muito inédito e diferente, o que não vai acontecer o tempo todo. Muitas vezes o diferente incomoda e irrita, porque o que você quer naquele momento é o que você já conhecia, estava acostumada e amava, como o arroz e feijão que só a sua mãe sabe fazer. Algumas vezes conhecer novas pessoas não é tão fascinante assim, pois as pessoas que faziam parte da sua vida te amavam e te acolhiam de uma forma que uma pessoa recém conhecida nunca poderá fazê-lo.

Esses dias o Dani estava chateado porque não tinha amigos para brincar. Eu disse que ele faria muitos amigos pelo caminho, ao que ele me respondeu em sua sabedoria infantil que não precisava de novos amigos porque ele já tinha os seus. Fiquei pensando sobre aquilo por muito tempo e com o coração apertado por sentir a dor do meu filho.

Ele fez 5 anos esses dias e tudo o que ele queria era um bolo e poder cantar parabéns. Fizemos isso num camping onde estávamos, com 4 casais de estranhos muito simpáticos, mas que não significavam nada para o Dani. Ele não reclamou, mas percebemos que ele queria estar com seus amigos da escola, da igreja e com suas primas.

Às vezes temos a falsa ilusão de que não ter que trabalhar, não ter um chefe ou uma obrigação formal seja o caminho para a felicidade. É verdade que não tenho chefe (embora eu me cobre muito mais do que todos os chefes que já tive), não tenho horário fixo de trabalho e na grande maioria das vezes não tenho um deadline fechado para cumprir, com exceção das parcerias comerciais que fechamos. Mesmo assim, não tive um único dia na viagem em que acordei depois das 8 horas da manhã (na verdade, mesmo sem despertador, nunca passamos das 7 horas), nunca passei um dia à toa sem produzir nada, seja para o blog ou para o Facebook, todos os dias cada um de nós tem as suas obrigações, que geralmente não podem ser deixadas para depois, pois acabam influenciando toda a dinâmica do grupo, além dos problemas normais que surgem e precisam ser resolvidos, como um cartão bloqueado, internet móvel que não funciona, troca de óleo do carro, consertos do carro, reposição de itens que se gastaram ou se perderam, stress para passar por uma fronteira, para transportar o carro por navio para outro país, controle de orçamento, e por aí vai, a lista pode ser imensa.

A única coisa que muda, de fato, é o cenário. Vamos lidando com as questões do dia a dia, que antes eram administradas num único lugar, em cidades, estados ou até mesmo países diferentes. Mas essas questões não deixam de existir porque simplesmente estamos viajando e são questões que muitas vezes nos cansam, como nos cansariam em casa, ou até mesmo mais, pois não dispomos dos recursos e estrutura que tínhamos à nossa disposição no conforto do nosso lar.

Viemos de um ritmo de vida muito intenso que é o estilo das grandes cidades como São Paulo e temos imprimido esse ritmo até o momento para a nossa viagem e já nos deparamos com alguns momentos de cansaço e desânimo por conta disso. Sempre estamos atrasados no roteiro, sempre temos que correr para chegar até a próxima cidade, ao próximo destino, ou em determinado país num mês definido. Mesmo que tenhamos gostado e queiramos ficar mais um pouquinho num lugar, nos forçamos a seguir para não perder o planejado. Percebemos que isso não faz sentido e que podemos, e devemos desacelerar a nossa viagem, para aproveita-la de verdade.

Nosso roteiro inicial previa uma saga ensandecida em busca de visitar o máximo de países e lugares possíveis no curto espaço de 2 a 3 anos. Já temos repensado isso, para buscar qualidade e não quantidade. Reduzimos nossas expectativas de conquistar o mundo nesse tempo para conhecer os lugares que mais queremos, sem pressa, podendo aproveitar de forma tranquila o que aquele lugar pode oferecer.

Convidamos você a nos acompanhar nesse novo ritmo e curtir com a gente mais essa descoberta da estrada, de que a vida pode fluir num ritmo menos acelerado e ser feliz assim.

Natany Gomes

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