Andrades pelo Mundo

Veja como é viajar pelo mundo em um carro com a família Andrade

Participe desse projeto

Veja como patrocinar e participar dessa aventura

Causos da Estrada

Busca no Site

À medida que a viagem se aproxima do fim, vamos ficando mais preocupados com as despesas e com as saídas de caixa, fazendo todo o possível para evitar gastos desnecessários e economizar. E nesse espírito chegamos à Inglaterra, um dos países mais caros da Europa, com a libra valendo mais que o euro (que já é caro para nós, brasileiros).

Antes mesmo de cruzarmos o Canal da Mancha percebemos que teríamos dificuldades de encontrar campings baratos no Reino Unido. O cartão de desconto que usamos em quase toda a Europa não é aceito em muitos campings de lá. Com esse cartão, nunca pagamos mais do que 19 euros por noite (cerca de 17 libras), mesmo nos campings das capitais e cidades mais turísticas, que geralmente são mais caros. Sem ele, já vimos campings por 45 euros por noite (um absurdo).

Durante muitos anos estudei francês e, embora eu não tivesse vontade de viajar para França a passeio, tinha muita vontade de ir para falar francês. Sempre achei a língua linda e sonhava em passar um tempo no país para colocar em prática tantos anos de estudo.

Essa oportunidade somente veio agora na viagem, quando o meu francês já estava bem capenga de muitos anos sem ser usado. Mas não teve problema, porque deu para aproveitar mesmo assim. Era muito legal ir redescobrindo palavras que eu já tinha esquecido ou ouvindo as pessoas conversarem e conseguir entender o que diziam. Eu não perdia uma oportunidade para prestar atenção numa conversa alheia rs. E depois de 25 dias no país, já estava até arriscando umas frases mais complexas!

Chegamos na Itália vindo da Grécia, num ferry grego muito velho e desconfortável (pensa numa noite longa!). Nossa intenção era ficar pelo menos duas semanas na Grécia, mas já estávamos quase em dezembro e a chegada do inverno e da chuva fez com que desistíssemos e fôssemos mais cedo para a Itália. Queríamos visitar algumas ilhas gregas, mas com frio e chuva seria uma perda de dinheiro e tempo.

Somado a isso, tivemos alguns episódios desagradáveis na Grécia que nos desgostaram um pouco. Quando chegamos num país novo, gostamos muito de passear no mercado, para ver o que existe de diferente na alimentação daquele lugar. E na Grécia não foi diferente. O problema é que entramos no mercado geralmente comportados e depois cada um vai para um lado, o Dani corre pelos corredores, eu chamo o Cris de um outro corredor (geralmente gritando de leve) para ele ver o que eu encontrei e vice-versa. Tentamos agir de forma discreta, eu garanto. Não é nada escandaloso ou extremamente barulhento, mas não passamos desapercebidos, com certeza.

Durante os 26 dias que viajamos pela Geórgia observamos um hábito curioso da população local na hora de colocar as suas roupas para secar.  Nas cidades maiores como Tbilisi e Batumi, onde existem muitos prédios residenciais, era absolutamente comum ver as roupas secando para o lado de fora da janela dos prédios.

A primeira vez que vimos tomamos um grande susto e achamos aquilo muito estranho e feio, porque no Brasil estamos acostumados que não se pode pendurar nada para o lado de fora do prédio para não comprometer a estética da fachada. Por lá, no entanto, estética é a última das preocupações, porque todo mundo pendura suas roupas para secar desse jeito. Em alguns apartamentos, inclusive, chegamos a ver suportes externos fixos, que mesmo sem roupa ficam para fora permanentemente.

Recentemente nos demos conta de que estamos viajando a cerca de um ano e meio, quase sempre dormindo na nossa barraca, mas ainda não tínhamos falado dela. Uma injustiça que será corrigida agora rs.

Antes de tomar a decisão da viagem, eu nunca tinha ouvido falar em barraca de camping instalada no teto do carro. Para mim, acampar era sinônimo de dormir numa barraca convencional, no chão duro, sujeito a umidade (ou água), bichos, saliências do solo, claridade ao nascer do sol e mais alguns outros desconfortos.

Depois de exatos 40 dias, enfim recebemos a notícia de que o Chulé estava pronto!

Estávamos numa ansiedade enorme para pegá-lo logo e retornar a viagem de carro e começamos a nos organizar para voltar para a Itália para buscá-lo. Quando eu (Naty) voltei do Brasil, alugamos um carro em Milão e fomos conhecer a região do Mont Blanc, entre França, Suíça e Itália. Agora precisávamos voltar para Milão, devolver o carro e pegar um ônibus até Siena, onde o Chulé tinha ficado todo esse tempo sendo consertado.

Entre a cidade que estávamos e Milão era uma viagem de 3 horas mais ou menos, mas com pedágios muito caros no caminho. Tínhamos que passar por um túnel que cobrava 45 euros e mais todo o pedágio do restante do caminho, que dava em torno de 50 euros.

Uma das despesas mais caras de uma viagem é a hospedagem, por essa razão saímos do Brasil com uma barraca instalada no teto do nosso carro, que nos permitiria dormir em lugares mais baratos ou gratuitos, com mais conforto do que uma barraca tradicional de chão.

E na maioria do tempo é nela que ficamos. Já estamos tão acostumados que, dependendo do lugar, preferimos ficar na nossa barraca a se hospedar em qualquer hostel mais simples de limpeza duvidosa.

O único problema é quando a cidade não possui camping e não conseguimos encontrar nenhum lugar seguro para passar a noite no carro. Nesse caso temos que decidir entre seguir viagem e não visitar aquela cidade ou então encontrar um lugar para se hospedar por um ou dois dias para podermos visitar rapidinho o lugar. Isso geralmente acontece nas cidades maiores que não possuem camping.

Comida é uma das questões mais complicadas da viagem. Nem sempre podemos almoçar fora, porque aumenta muito os gastos da viagem, e muitas vezes não temos como preparar a nossa própria comida, porque estamos passeando numa cidade ou porque estamos na estrada dirigindo o dia todo.

No começo da viagem tivemos muita dificuldade de adaptação nesse quesito alimentação, pois em casa estávamos acostumados a comer comida todos os dias e a ter horário certo para comer e na estrada não conseguimos nem uma coisa nem outra.

O que nos faz feliz? Essa é uma questão que nos acompanha desde que saímos de casa. Que viajar sempre foi motivo de felicidade para nós, não havia nenhuma dúvida, mas seria assim também numa viagem tão longa e com poucos recursos como a que fazemos?

Percebemos que nem todo viajante pelo mundo é igual ou possui as mesmas aspirações, cada um tem seu próprio ritmo, estilo e encontra sua felicidade de um modo diferente. Já cruzamos com pessoas que viajam usando os mais variados meios de transporte: a pé, de bicicleta, de carona, de moto, de carro e até de caminhão, e a grande maioria está satisfeito com o meio que escolheu. Alguns almejam conhecer o máximo de lugares num mínimo de tempo, visitando mais de uma cidade por dia, ao passo que outros passam semanas, às vezes até meses parados no mesmo lugar.

Quando saímos da Rússia, fomos em direção à Tbilisi, que é a capital da Geórgia. Lemos vários comentários sobre o país dizendo que ele é seguro e estávamos dispostos a fazer o máximo de campings livres que conseguíssemos. Tínhamos encontrado no aplicativo IOverlander um lugar onde as pessoas faziam camping livre e resolvemos seguir para lá para avaliar se o lugar era seguro. O problema é que não sabíamos que existia uma hora de diferença de fuso horário em relação à Rússia e escureceu mais cedo do que esperávamos. Não dava para simplesmente chegar de noite num lugar desconhecido e conseguir avaliar a questão da segurança.

Já havíamos conversado com um casal de amigos viajantes que tinham acabado de passar pela Geórgia e eles nos disseram que não tinha camping na cidade de Tbilisi, então o jeito seria ou ficar num hotel simples ou ir para um Airbnb.

Por todos os lugares por onde passamos, em especial nos campings, sempre encontramos gatos. Quando estamos num país muçulmano, então, é impossível andar mais de 100 metros pelas ruas sem ver pelo menos um bichano.

O Dani é louco por gato, o que me lembra muito como eu era na idade dele também. Sempre que aparecia algum filhotinho abandonado na rua em que eu morava, eu levava escondido para casa. Claro que minha vó sempre descobria e se desfazia do bichinho (dizendo que o dono tinha vindo buscar). Com o tempo fui ficando mais esperta e jogando os gatinhos no quintal da vizinha da frente, porque lá nenhum dono vinha buscar. Essa vizinha chegou a ter mais de 20 gatos e nunca soube como eles iam parar em sua casa (acho que preciso contar para ela qualquer dia rs).

Nós gostamos muito de conhecer lugares mais isolados, em que predomina natureza e que tenha sofrido a menor interferência humana possível. Sentimos muito prazer em contemplar as magníficas obras de Deus em completo silêncio e quietude, escutando apenas os barulhos da natureza. Esses lugares, no entanto, geralmente ficam nas regiões mais extremas do mundo, onde o clima costuma ser mais impiedoso também. Já chegamos a pegar uma temperatura de 5 graus negativos em pleno verão!

Saímos de casa com a intenção de fugir do frio, mas a verdade é que nesse primeiro ano de viagem pouco tempo passamos sem usar blusa de frio rs. Chegávamos na cidade com um clima quente e gostoso, mas resolvíamos subir a montanha e pronto, frio de novo!

Tudo que vivemos durante a viagem acaba virando história para contar, inclusive aquelas situações que daríamos tudo para nunca ter vivido. Esse é o caso do Causos da Estrada de hoje. Na hora que vivíamos a pior situação de toda a nossa viagem até agora, eu sinceramente não achei que estaríamos aqui hoje para contar essa história.

Já estávamos nos nossos últimos dias na Rússia, depois de ter ficado no país por 34 dias, e até então não tivemos nenhuma ocorrência grave. Tirando um espertinho que quis nos ludibriar na orla de Sochi cobrando mais do que o combinado para passar a mão num leãozinho, no geral nossos dias na Rússia foram tranquilos e baratos.

Depois de tanto tempo viajando pela Europa, contando com o conforto da maioria dos campings europeus, era chegada a hora de decidir se iríamos conhecer o Marrocos ou não. Confesso que ficamos com certa preguiça de sair da Europa e cruzar o estreito de Gibraltar em direção a esse país africano do qual poucas informações tínhamos. Será que encontraríamos lugares para ficar? Mesmo encontrando, como seria a estrutura desses lugares? Teria ao menos banho quente?

Em nossa cabeça, por ser um país pobre do continente africano, iríamos passar muito perrengue e começou a bater um desânimo. Somado a isso, o ferry marítimo para cruzar da Espanha para Marrocos não era barato e ficamos vários dias ponderando se deveríamos desistir. No fim, chegamos à conclusão de que tínhamos que ir, pois seria a nossa única experiência no continente africano nessa viagem e não deveríamos perder por medo de alguns banhos gelados rs.

Assim que entramos na Turquia já percebemos algumas coisas bem diferentes em relação aos demais países por onde já tínhamos passado. A primeira delas foi a quantidade de mesquitas espalhadas pelo país. É possível dizer sem medo de errar que não existe ninguém que não escute em sua casa os chamados à oração, mesmo que bem baixinho.

As mesquitas estão em todo lugar e são facilmente identificadas por uma torre bem alta ao lado de cada mesquita. Essas torres são chamadas de minaretes e sua função é fazer com que a voz da pessoa que anuncia o chamado às 5 orações diárias possa ser ouvida a grandes distâncias. Podemos dizer que os minaretes cumprem sua função com maestria, pois em todos os dias que ficamos no país ouvimos todos os chamados!

Já falamos da nossa dificuldade de comunicação em outro Causos da Estrada durante os dias em que estivemos na Rússia e até como fizemos para contornar a situação e conseguir sobreviver no país durante os 35 dias que ficamos por lá. O que não mencionamos é que alguns espertinhos se aproveitam da barreira linguística para tirar proveito de turista e que nós acabamos sendo vítimas de um golpe, ou melhor, um “mal-entendido”.

Quando chegamos na Europa, além dos cuidados básicos com carteiras, bolsas, celulares e câmeras para não serem furtados em locais de grande movimentação, procuramos ler na internet quais tem sido os golpes mais frequentes contra turistas para já ficarmos espertos.

Sempre gostei mais de saber do que de não saber. Penso que quanto mais informações temos à nossa disposição, maiores são as nossas chances de acerto, em qualquer área da vida. Ainda assim, sempre teve um tipo de informação que eu nunca dei muita importância, sem nem mesmo saber o porquê: a previsão do tempo.

Desde que casamos, eu e o Cris viajamos bastante. Quase todas as nossas viagens foram programadas com certa antecedência, levando em consideração o clima do lugar para onde estávamos indo e a previsão de chuva na época. Fazíamos as análises iniciais, fechávamos a viagem e depois nunca mais lembrávamos de consultar o clima no lugar, para se certificar de que na semana que estaríamos por lá iríamos conseguir curtir como tínhamos planejado.

Estamos quase completando um ano de estrada. Já vivemos e vimos muita coisa, mas ao mesmo tempo dá aquela sensação de que o ano passou e que fizemos muito menos do que imaginávamos. O tempo passa num ritmo muito acelerado na estrada, as semanas começam e terminam numa rapidez assustadora. Atividades simples do dia a dia, como lavar louça, roupa, cozinhar, organizar itens pessoais, fazer a cama, consomem muito mais tempo na estrada do que em casa, pois a nossa estrutura acaba sendo muito primitiva e os recursos disponíveis são poucos.

Uma pia para lavar a louça é um luxo em algumas partes do mundo. Já perdemos as contas de quantas vezes tivemos que lavar louça em pias de banheiros, em rios e lagos ou com a mangueirinha do carro agachada no fundo do Chulé para não espirrar água com terra na roupa. Pela manhã, por maior que seja o nosso esforço, nunca conseguimos sair do camping com menos de 2 horas depois que acordamos. Os sacos de dormir dentro da barraca precisam estar numa posição exata para que a barraca feche certinho com o volume extra, o fogão nos dá um baile para acender de manhã, a louça precisa ser lavada antes de sair e se já sabemos que não estaremos em lugar com chuveiro à noite, já aproveitamos e garantimos o banho do dia.

Confesso que a Rússia sempre foi um país que me inspirou um pouco de medo e nunca tive muita vontade de conhece-la. Acho que assisti muito filme americano e tudo que vinha a minha cabeça antes de visitar o país era máfia e russos andando por aí bêbados e com uma faca na mão.

Com certeza uma visão muito limitada de toda a riqueza cultural, natural e pessoal do país e que poderia deixar qualquer russo muito bravo, assim como nós brasileiros ficamos quando dizem que o Brasil só tem índio e mulata dançando samba.

Queríamos conhecer a Croácia com calor, pois já tínhamos ouvido falar de como seu litoral era lindo, mas nosso prazo dentro da área da Europa estava no fim e precisávamos achar um lugar para ficar durante o inverno europeu. Como nosso carro ficou consertando na Itália, o lugar mais próximo fora da área do Schengen era a Croácia e acabamos indo para lá.

Sempre comentamos sobre a área do acordo Schengen, mas nunca falamos o que isso realmente significa. Só para ficar mais fácil entender, quase todos os países da Europa fizeram um acordo de livre circulação entre suas fronteiras e dentro dessa área os brasileiros não precisam de visto para uma viagem de 90 dias, num prazo de 180 dias. Somente fica de fora dessa área europeia os países do Reino Unido, dos Balcãs e a Rússia. Até mesmo os países do leste europeu estão dentro da área do Schengen, o que dificulta muito a nossa viagem, pois depois que passamos 90 dias visitando os países tradicionais da Europa, temos que ficar fora dessa área por mais 90 dias, antes de sermos autorizados a entrar novamente.

Pouco antes de ir para a Geórgia, encontramos uns amigos que tinham acabado de passar por lá e nos disseram que não podíamos deixar de comer o Khachapuri, um prato típico do país. Foram tantos elogios de como o Khachapuri era gostoso e barato, que já chegamos na Geórgia procurando um lugar para comê-lo.

Mas, afinal, o que é o Khachapuri? Ele é basicamente uma massa de pão ou pizza recheado com um queijo local que muito se assemelha a queijo coalho. Existem 3 variantes regionais do Khachapuri: 1) O Imeruli, em formato circular, com queijo dentro da massa e servido em fatias como uma pizza; 2) O Megruli, também em formato circular e servido em fatias, mas além do queijo dentro da massa vem queijo por fora também; e 3) O Acharuli, em formato de uma gôndola, normalmente servido com um ovo cru e manteiga em cima do queijo.

Quando decidimos fazer a viagem tínhamos vários medos e receios, mas a comunicação nunca foi uma delas. Eu sempre gostei muito de idiomas e tive a oportunidade de estudar inglês, espanhol, francês e italiano quando era mais nova. Com o tempo e a falta de prática o francês e o italiano ficaram enferrujados, mas o inglês e o espanhol estavam afiados e estávamos certos de que íamos nos virar muito bem falando essas duas línguas.

Nos primeiros seis meses que viajamos pela América do Sul estivemos no céu. Conseguíamos resolver qualquer problema mais complexo que aparecesse e não deixávamos de falar com ninguém por causa da língua. Com o tempo, passei a pensar em espanhol e cada dia estava falando melhor e com um vocabulário mais extenso. O Dani também aprendeu muita coisa e já arriscava participar das conversas falando alguma coisinha em espanhol. Até o Cris que sempre se disse fluente, mas que na verdade falava um portunhol, já estava falando muito bem. Nosso último ponto na América do Sul foi Cartagena e ali os três estavam arrasando no espanhol.

Sempre gostamos de viajar para lugares frios, mesmo antes de sair para essa viagem. Quando fomos para a Patagônia pela primeira vez, embora fosse verão, fazia bastante frio e curtimos muito a experiência de fazer as caminhadas com aquele friozinho, admirando os picos nevados das montanhas ao longe.

Numa outra oportunidade, fomos para o Atacama e para a Bolívia no inverno e, embora tenhamos pegado temperaturas muito baixas e para as quais não tínhamos roupas adequadas, as paisagens eram espetaculares e os dias ensolarados com céu azul faziam tudo parecer mais fácil. Somado a isso, nossa viagem durou apenas 10 dias, em seguida voltamos para São Paulo, onde o inverno tem sido bem ameno nos últimos anos.