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Causos da Estrada

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Já falamos da nossa dificuldade de comunicação em outro Causos da Estrada durante os dias em que estivemos na Rússia e até como fizemos para contornar a situação e conseguir sobreviver no país durante os 35 dias que ficamos por lá. O que não mencionamos é que alguns espertinhos se aproveitam da barreira linguística para tirar proveito de turista e que nós acabamos sendo vítimas de um golpe, ou melhor, um “mal-entendido”.

Quando chegamos na Europa, além dos cuidados básicos com carteiras, bolsas, celulares e câmeras para não serem furtados em locais de grande movimentação, procuramos ler na internet quais tem sido os golpes mais frequentes contra turistas para já ficarmos espertos.

Um dos golpes que lemos e que mais nos preocupou foi aquele em que a pessoa chega até o seu carro, geralmente num posto de gasolina, puxa conversa e tenta te distrair, enquanto outro abre rapidamente a porta de trás do carro e rouba o que conseguir levar.

Como carregamos dentro do carro muitas coisas, ficamos bem preocupados com esse golpe e muito atentos. Na Rússia era muito comum pessoas se aproximando da janela do nosso carro para tentar conversar, curiosas ao ver o carro. Geralmente isso acontecia enquanto o Cris ia ao supermercado e eu permanecia no carro com o Dani. Sempre que aparecia algum estranho na janela, eu já travava todas as portas, além de pedir para o Dani ficar atento lá atrás. Todo cuidado é pouco.

Outro golpe muito comum é a pessoa se oferecer para tirar foto com seu celular/câmera e fugir com ele, ou então tentar cobrar pela “ajuda”. Não dá nem para acreditar nessa, né?

Em Moscou um senhor de uns 70 anos se ofereceu para tirar uma foto nossa e eu confesso que entreguei o celular para ele meio contrariada, ele era simpático demais para o padrão russo rs. O bom de não entendermos a língua deles é que eles também não entendem a nossa. Na hora comentei com o Cris que o vozinho ia sair correndo com o nosso celular, mas o Cris me garantiu que conseguia alcançá-lo. Felizmente não foi necessário, já pensou a vergonha se o vozinho corresse mais do que o Cris? Kkkkkkk.

Tem também o golpe do troco errado. Esse golpe nós sofremos no Equador num pedágio, pois o Cris tinha o costume de pegar o troco e já sair dirigindo enquanto eu contava pelo caminho. Nesse dia era um troco muito alto e a pessoa nos entregou várias moedas, o que dificultou a contagem. Quando terminei de contar e vi que tínhamos sido enganados, já estávamos longe e não dava para voltar e reclamar. Desse dia em diante, combinamos que sempre contaremos o troco todo antes de sair do pedágio. Não foi muito dinheiro, mas a sensação de ser passado para trás é horrível. Ficamos pensando que se aquela pessoa faz isso umas dez vezes por dia, no final do mês ela consegue mais dinheiro do que o que recebe como salário.

Além dos golpes propriamente ditos, existem os “mal-entendidos”, principalmente por causa da língua, e na Rússia tivemos a chance de presenciar um, antes de termos a nossa própria experiência rsrs. Estávamos em São Petersburgo visitando um lugar turístico, vimos uma barraquinha de sorvete e resolvemos tomar um. Tinha uma foto de uma casquinha com 3 bolas de sorvete e lotada de coisas, castanhas, cobertura, canudo, enfim, tudo que se tem direito, por 100 rublos (mais ou menos 6 reais).

Na nossa frente na fila tinha um senhor oriental, que nos pareceu japonês, acompanhado por duas senhoras. Ele segurava na mão três notas de cem rublos estendidas enquanto comprava sorvete para os três. O atendente ia perguntando o que eles queriam no sorvete e ia colocando um monte de coisas, dando a entender que tudo fazia parte do preço. Quando todos já estavam com seus sorvetes, o japonês estendeu, todo contente, as três notas para pagar e o atendente, muito espertinho, mostrou um novo valor pelos sorvetes: 750 rublos. Mais que o dobro do valor original! O japonês ficou tão desconsertado e acabou pagando o valor a maior, sem discutir, claramente chateado com o ocorrido. Sua fisionomia de alegria tinha sumido.

Aquela cena ferveu meu sangue latino e atiçou meu espírito de advogada rsrsrs. O atendente pode não falar inglês, mas tenho certeza que entendeu perfeitamente o motivo da minha indignação e boa parte do que eu falei.  Deveria servir de incentivo para que ele pensasse duas vezes antes de tratar turista como idiota, mas no fundo eu sei que foi apenas eu virar as costas para ele fazer de novo com outro desavisado.  

Mal eu sabia que o nosso dia para passar por uma situação parecida estava chegando. Geralmente não damos atenção para pessoas que nos abordam na rua oferecendo alguma coisa, mas nesse dia foi diferente. Estávamos passeando tranquilamente pela Cidade Olímpica de Sochi, na Rússia, que fica à beira do mar Negro, quando vimos um filhote de leão na calçada. Além dele, tinham também duas araras e um lêmure.

Eu fiquei hipnotizada, ele era tão bonitinho e eu sempre tive vontade de passar a mão num filhote de leão. Nessa hora o dono do animal se aproximou de nós, e até falava inglês. Não resistimos e perguntamos quanto custava para passar a mão e tirar foto com o filhote. Eu estava tão encantada com o animal que o meu radar de picaretagem ficou comprometido e nem pensei em tomar algumas precauções básicas, como me certificar de que eu tinha entendido o que ele estava falando, usando o Google Tradutor.

Quando perguntamos quanto custava, o dono do leão não respondeu em inglês, simplesmente digitou no nosso celular o valor de 500 rublos (cerca de 30 reais) e apontou para os três, nos levando a crer que esse valor era para os três interagirem com o animal e tirarem foto (conforme tínhamos perguntado). Não percebemos a encrenca em que estávamos nos metendo essa hora. Sem mais detalhes, começamos a brincar com o leãozinho, passar a mão e tirar milhares de fotos com os nossos celulares.

Eu estava numa alegria imensa, esse era um item que eu tinha na minha lista de desejos e tinha realizado de uma forma tão inusitada e inesperada, que nem dava para acreditar. Aquele dia estava sendo perfeito, até a hora que fomos pagar.

Nesse momento o dono do leão digitou um novo valor no nosso celular: 2.500 rublos (cerca de 140 reais). Tomamos um susto com aquilo e começamos a questionar de onde tinha saído aquele valor. Nessa hora, ele já não falava mais nada em inglês, só em russo, e começou a usar o Google Tradutor do seu celular (na hora de nos enrolar, nada de Google Tradutor). Disse que havia nos explicado (em russo) que era 500 rublos por pessoa para tirar uma foto. Como tiramos várias, o valor ficava em 2.500 rublos. Pronto, stress e bate boca instalado. Ele só receberia esse valor da gente se roubasse nossa carteira, do contrário, sem chance. O combinado não custa caro!

 Estávamos sendo claramente enrolados pelo golpe (ou “mal-entendido”) da língua, que no nosso caso consistiu em alegar que ele tinha nos falado em russo quanto custava e que achou que tínhamos entendido. Se a polícia aparecesse por ali, ele ainda seria a vítima, e não nós. O golpe perfeito! A verdade, no entanto, foi bem diferente. Ele insinuou um valor menor, para contratarmos o serviço, certo de que depois nos levaria a pagar o valor maior para evitar o stress e discussão, afinal turista tem dinheiro para gastar e não vai criar caso por um mal-entendido e uns trocados a mais (se deu mal, porque no nosso caso cada rublo conta rs).

Fomos firmes e dissemos que não iríamos pagar, apesar de todo o constrangimento em público, porque o local é de grande circulação e muitas pessoas pararam para acompanhar a discussão. Uma situação bem constrangedora, principalmente porque não sabemos o que eles estavam falando de nós para as pessoas que passavam, já que tudo era em russo.

Depois de um tempo discutindo, a experiência com o leãozinho já tinha perdido toda a graça e resolvemos que iríamos apagar todas as fotos e que o dono do leão não receberia nem um centavo. Ele percebeu que estávamos falando sério e resolveu aceitar os 500 rublos. Pagamos e achamos que o assunto estava encerrado, mas depois de receber o dinheiro, ele queria que apagássemos as fotos mesmo assim. Pronto, nova discussão! Se tínhamos pagado, é claro que não íamos apagar foto nenhuma. Não sei por mais quantos minutos a discussão se estendeu, mas em um determinado momento resolvemos que aquilo não ia levar a lugar nenhum, o deixamos falando sozinho e fomos embora, sem apagar as fotos.

Que situação chata! Um momento que tinha tudo para ser muito legal e único, se transformou num pesadelo. Pensamos seriamente em procurar a polícia, mas certamente não ia dar em nada, o dono do leão ia dizer que foi um “mal-entendido” por conta da língua e nós ainda sairíamos como os encrenqueiros. O negócio era esquecer e seguir em frente, cada vez mais atento para não cair numa dessas de novo!

Natany Gomes 

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